AVENTURA NA FLORESTA




            O Menino, cansado da fuga, estava deitado embaixo de uma árvore em meio à densa floresta. O Papagaio-Curica viu o Menino e foi chamar os outros.
           Quem atendeu ao chamado do Papagaio foi o Macaco-Barrigudo, o Guanaco-Solteirão e o Tatu-Galinha.
            Os quatro animais, muito curiosos, puseram-se a pesquisar.
            — Será que está vivo ou morto? Não é nada parecido com o que estamos acostumados a ver por estas bandas.
            Tatu-Galinha apalpou o corpo de menino e viu que tinha uma pele macia, nada de carapaça com a sua.
            — Não tem casca, não tem penas e não tem pelos. Mas que pele mais pelada! Nunca vi um bicho assim.
            Papagaio-Curica olhou a boca:
            — Vejam só! Esta boca não tem bico. E está cheia de dentes!
            Macaco-Barrigudo andava em círculos. Agarrou o dedão do pé do menino, ergueu um pouquinho, coçou a própria cabeça e falou muito sério:
            — Este bicho não tem rabo! Mas que bicho mais estranho! Sem rabo, sem asas, sem bico e com esta pele pelada...
            — E se isto não for um bicho? — disse o Guanaco-Solteirão, agora preocupado.  —Ele é tão misterioso!
            — Elementar, caros amigos! — disse o Tatu. — Veja, Macaco, tirando o seu rabo, ele não é tão diferente de você. É um filhote de gente!
            — Socorro! — Papagaio voou para o alto de um galho. — Gente é um bicho muito perigoso! Joga pedra no meu ninho, me vende, me prende!
            — Nem toda gente é perigosa, Papagaio! — Falou o Tatu. — Filhote de gente, eles chamam de criança. E este deve ser um Menino. Olhe, ainda é tão pequenino!
            — Vamos ver se ele está apenas dormindo... ou será que está morto? Vamos examinar. — Tatu-Galinha subiu no peito para ouvir o coração. O coração bateu tão forte, que jogou Tatu pra longe.
            Guanaco-Solteirão espichou o pescoço para baixo e dobrou os joelhos, encostando a face  no nariz do Menino, para ouvir a respiração.
            — Que legal! Está soprando um ventinho quente! — Mas o pelo do Guanaco fez cócegas no nariz do Menino.
            — Ah...tchim! — Guanaco caiu de costas, com as patas para o alto.
            — Se pode expirrar, então está vivo! — disseram os quatro. — Vamos acordá-lo pra que nos conte sua história e pra gente poder brincar com ele.
            Papagaio foi dando bicadinhas, Tatu deu mordidinhas, Macaco fez coceguinhas e Guanaco fazia um barulhão com a boca, imitando um Burro.
            Toda essa festa fez o Menino acordar. Ele se esticou todo, se espreguiçou, viu os quatro animais e, apesar de surpreso, não se assustou.
            Começou a contar sua história e por que veio parar ali.
            — Eu estou indo para a Terra de Colombo, buscar ajuda pra libertar minha Mamãe. Eu consegui fugir, mas ela está presa no Reino dos Farconians. Sabem o que são os Farconians? São uns monstros perigosos, que atacam pessoas e as levam para o meio da floresta. Eles mantêm as pessoas presas e são muito malvados.
            — Mas, e você conseguiu escapar deles? — perguntou o Papagaio.
            — Eu nasci dentro do Reino dos Farconians. Minha Mamãe estava me esperando quando a levaram para a floresta. A cada poucos dias levam a gente pra fazer marchas forçadas no meio do mato e foi durante uma dessas marchas que eu fugi. Eu estou muito cansado, mas prometi para minha Mamãe que ia buscar ajuda e que tiraria ela das mãos dos Monstros.
            — Você é um Menino tão pequeno e tão valente! — disse o Macaco, admirado.
            — Nós não sabemos o caminho para a Terra de Colombo, mas se você quer ir pra lá, vamos ajudar. — comprometeu-se o Guanaco, em nome dos demais.
            — Sim, a Mamãe disse que eu devo procurar o meu Papai, porque ele vai trazer uma máquina voadora, gigante e barulhenta que carrega pessoas e que se chama haa... hoooli... heeliicópiiitero.
            — Ah, ah, ah... Nem eu que falo tão bem, conseguiria pronunciar esta palavra! — Papagaio-Curica não conseguia parar de rir.
            Enfim, resolveram postar-se rumo a Terra de Colombo, onde o Menino conseguiria ajuda para libertar sua Mãe. Antes, porém, os quatro animais fizeram uma combinação de poupar o Menino de mais traumas do que ele já tivera até o momento. Resolveram fazer tudo parecer uma brincadeira, uma aventura que pudesse manter seu amiguinho livre dos perigos que pudessem surgir.
            Eles já imaginavam que os Monstros Farconians estavam bem próximos. Depois de descobrir a fuga do menino, o chefe dos Monstros mandou um grupo grande em sua perseguição.
            Os Monstros, sequer desconfiavam que logo teriam que enfrentar aqueles animais, seres da selva como eles, só que os quatro amigos estavam unidos com um propósito universal, de fazer o bem aos outros. Bem diferente dos Farconians, que só sabiam espalhar o terror.
            — Eu vou cavar tocas por baixo da terra, deixando camadas bem fininhas pra eles caírem nos buracos, quando por aqui passarem. — Assim fez o Tatu, quando sentiu a aproximação dos Monstros.
            Macaco-Barrigudo pendurou-se pelo rabo no galho da árvore mais alta.
            — Vocês se escondam atrás de algum arbusto, porque quando eles passarem por baixo desta árvore, vou saltar do meu galho e vou dar socos pra tudo quanto é lado.
            O Macaco-Barrigudo desloca-se com rapidez incrível e pode dar saltos espetaculares de uma árvore para outra. No chão, adota a posição bípede com a cauda voltada para cima. Os Monstros perseguidores não tiveram chance de defesa, fugindo dali apavorados, pensando que era um demônio furioso a lutar contra eles. Correram bastante e quando pensaram estar a salvo, ouviram uma voz poderosa e assustadora:
            — Vocês vão ver, seus bandidos! Eu vou pegar vocês! Vão virar picadinho! — Pensaram tratar-se de algum Monstro pior que eles, pois a voz era horrível. Mais uma vez, correram apavorados, sem imaginar que era apenas o Papagaio-Curica, imitando voz de gente.      Em meio à correria receberam cusparadas do Guanaco, com sua mira certeira, bem na cara deles, a gosma escorrendo, de cima abaixo.
            E foi assim que durante a longa jornada na floresta, o Menino viu os Monstros caindo nas brincadeiras montadas pelos quatro animais para pegá-los de surpresa, até não sobrar nenhum.
            Livres dos Monstros, os amigos iam montados na garupa macia do Guanaco, quando começaram a ouvir um barulho que foi se tornando ensurdecedor. Ao chegarem a uma clareira, quase nos limites da floresta, viram baixar a enorme máquina voadora que a Mamãe do Menino tinha falado tantas vezes. Então, correram ao encontro do Homem que descia do helicóptero e que também corria para eles e em seguida já apertava o menino em seus braços e o carregava no colo. Não foi necessária nenhuma apresentação.
            — Fui avisado que os Farconians fugiram, deixando tudo para trás. Não sei o que os fez agirem assim, mas deve ter sido algo muito poderoso. As pessoas foram libertadas e estão a caminho. Vamos ao encontro delas, buscar a Mamãe!
            O Menino apenas sorria, a cabeça encostada no peito do Pai, enquanto piscava para os amiguinhos animais. Todos sabiam que nada mais seria como antes de se conhecerem. Despediram-se com promessas de novos encontros e novas aventuras, sem perigos. A proteção e a diversão estavam garantidas.