sábado, 30 de junho de 2012

De Tecnópolis, ano 2032




Acuda, minha mãezinha. Estou aqui, escondido num canto qualquer. O que diria você,  vendo a ciência dominar a genética? É bom. Isso é bom, esse sentido de melhorar minha estrutura orgânica. Doenças? Não mais! Evolução biológica. Meu corpo se adapta. Suporta tudo, adversidades cósmicas. Vírus. Novas bactérias, não sei, não. Viver por mais tempo. Isso é bom. É bom?  Cada vez mais implantes robóticos. Trocas de braços, pele, cérebros, olhos, pernas. Ontem. Isso já foi. Agora a onda é memória suplementar, dispositivos capazes de gerar força, visão, audição, energia. Futuro robótico? O futuro é agora, chegou antes. Eles estão chegando. Simbiose com a máquina. Isso não! Não! Nunca serei um autômato. Ainda é cedo. Ainda me resta algo. Minha alma não será enxugada. Sou carne e osso e âmago, máquina não, até que não mais exista. Robôs são eles. Cibernéticos. Distópicos. Vivos? Ou imitação da vida? Mortos-vivos. Não passam de fios unidos. Mecanismos interligados. Circuitos integrados. É isso que concebe um robô.  Máquina concebida sem pai nem mãe. Acuda, minha mãezinha. Sem suor, sem corpos se refregando na peleja do acasalamento. Sem desejo e sem prazer. Controle manual. Controle automático. Circuitos elétricos. Máquinas! São os robôs que controlam tudo. Robôs são apenas máquinas: não sonham nem sentem, não ficam cansados. Eles seguem seu caminho de dominação. Nós, o da dependência. Nossa dependência total pra eles é pouco. Momento crítico. Não há limites. O planeta é pouco. Não basta, não cabe mais. Exploração espacial, exploração econômica. Naves, satélites artificiais, sondas espaciais. Fazem uso de humanos em suas missões: me usam. Utopia moderna. Ou o contrário. Resolução dos problemas sociais? Apenas promessas! Assim que tomaram as ruas se desvirtuaram. Modernidade. Ciência e tecnologia. Triplo desvirtuamento. Melhoria de condições de existência da humanidade. Pura balela. Não resolveram nada. Não deu certo. A História vai mostrar. Quem viver verá. O que vejo deste canto em que me escondo? Logo mais estarão aqui. Sei que falta pouco. Serei descoberto, é inevitável. O que vejo é o que ainda resta. Parecem ordenados, mas por trás da ordem aparente há o caos. Nos cantos, nos subterrâneos.Indivíduos marginalizados, caos urbano, Não deu para acompanhar. Cidade virou megalópole. Implantes mentais, próteses, clonagem. Ainda assim, ainda sou eu. Visto como marginal, criminoso, ativista, visionário, um pária. Só porque não me encaixo. Não cedi minh’alma. Tudo foi subvertido. O foco foi perdido. Virei o anti-herói. Fui criador,  protagonista da história agora sou descartável entre ciborgues. Eles viraram mocinhos. Eu me transformei no procurado. Preciso de um disfarce. Onde mais me esconder. No espaço físico? Na dimensão informacional? Onde? O cenário é de corporações gigantescas. Eu sou a formiguinha. Monitorada, nunca dominada. Dominaram tudo. Todos os campos. Substituíram os governos. Não há mais nacionalidades. Globalizaram. Universalizaram. Não há mais partidos democráticos. Não há mais ditaduras individuais. O poder emana de mega-corporações, de inteligências artificiais. De monstros alienígenas. Governam do alto de suas conquistas intergalácticas. Este é o futuro com o qual sonhei? Não! Uma paródia do presente que ficou lá atrás. Naquele começo do século XXI. Tão longe agora! Saudade. Nostalgia. Não tem lugar pra isso. Nem resta mais tempo. Acudam! Teu colo mãezinha. Tão quente. As flores do teu vestido. Teu decote, o seio tão doce. Esta sala fria. Luz branca. Não vejo mais nada. Apenas dor. Branco. Por fim, o escuro. Morte. Meu corpo talvez se adaptasse. Minha alma não.

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