sábado, 5 de janeiro de 2013

Retrato cru(el) de Brasília


De réguas e linhas se fez. Era anônima e se fez concreta, riscada em desenho geométrico. Construída para realizar os sonhos de um povo sofrido. O chão ferido, cortado por máquinas, moldado em argamassas. Os pés do povo - calcados na lama - e as mãos e as máquinas plantaram o asfalto, cortaram em eixos, desenharam em linhas - retas e curvas - de réguas e compassos. As tesourinhas, agora, recortam o trânsito, atravessado por cruzamentos. Cruzes horizontais em uma metrópole que cresce na verticalidade. Um chão de promessas. Que se ergue em vigas, em cimento e cristal. O aço que sobe do asfalto, também desenha um traçado gigantesco. Erguem-se palácios, em planaltos e alvoradas. Pilares e colunas que sobem ao céu, querendo alcançar as estrelas, talvez assemelhar-se aos deuses, quem sabe imitar os anjos. Um sonho irrealizado de um povo sofrido. Quem, lá do alto, olha a cidade, ofusca a visão. Entre as linhas retas e curvas, a vida se desenha toda torta. É a ambiguidade do sonho do humano que quer ser Deus.


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